quarta-feira, 7 de julho de 2010

Terminei mais um livro...


Dados do livro “Mundo Sem Fim
Título original: World Without End
Autor: Ken Follett
Tradutor: Pinheiro de Lemos
Editora: Rocco
Número de páginas: 941

A história se passa no século XIV e começa quando quatro crianças - Merthin, Caris, Gwenda e Ralph (descendentes dos personagens de outro livro do autor, Os Pilares da Terra) - se conhecem sob uma circunstância bastante inusitada: presenciam um assassinato de dois homens numa floresta do condado de Kingsbridge. Elas decidem fazer um pacto de silêncio e nunca revelar a ninguém o que acontecera ali. A partir de então, acompanha-se o desenrolar de suas vidas pelas três décadas seguintes, ora paralelamente, ora se entrecruzando; e é aí que o enredo vai ganhando força e se tornando mais complexo.

Merthin Builder é a representação do espírito do início do Renascimento. Com sua mente brilhante e grande habilidade para a arquitetura, faz de tudo para pôr em prática seus projetos a fim de melhorar a vida do povo de Kingsbridge e ampliar o comércio no condado. Entretanto, sofre grande resistência, tanto do padre prior (“prefeito” do condado eleito pela Igreja), quanto de alguns construtores invejosos e menos habilidosos que ele. Nutre um grande amor por Caris Whooler, uma jovem bastante inteligente e determinada que não consegue aceitar a inferioridade das mulheres em relação aos homens nessa sociedade medieval.

Outra personagem bastante cativante é Gwenda, que se torna amiga de Caris desde o marcante dia na floresta. Ela é de uma família muito pobre e passa uma vida inteira de dificuldades e luta para sair dessa situação. Não almeja uma posição social de destaque, quer apenas um pedaço de terra de onde tirar seu sustento junto ao homem que ama, mas percebe que mesmo os sonhos mais simples requerem um grande sacrifício para serem alcançados.

Por último, há Ralph, irmão mais novo de Merthin, que possui uma índole violenta e cruel mesmo na infância, apesar de essa característica ficar muito mais forte em sua vida adulta. Extremamente ambicioso, quer a qualquer custo voltar a ser parte da nobreza, como um dia já fora sua família, nem que para isso tenha que matar ou violentar os que se puserem em seu caminho. Além dele, outros antagonistas também se destacam: o prior Godwyn, primo de Caris e quase tão ambicioso quanto Ralph, que almeja ser alguém de grande poder na Igreja, e busca isso através de intrigas e conspirações, especialmente quando recebe a ajuda de Philemon, irmão de Gwenda e um dos sujeitos mais sem escrúpulos de toda a história do livro.

Focando bastante nos rígidos costumes da época, a trama diversas vezes aborda temas pouco comentados sobre a sociedade medieval, como o sexo e a homossexualidade, este último ocorrendo especialmente dentro das portas fechadas da Igreja. O autor não poupa detalhes mesmo nas passagens mais “quentes”, sendo o livro, portanto, recomendado para leitores adultos. A violência também é retratada de forma crua e sem rodeios, que choca e chega a deixar indignado o leitor. Por várias vezes me percebi com raiva de um ou outro personagem, desejando uma punição por seus atos que demora a vir (o que não é muito diferente da vida real…).

Alguns leitores podem se sentir incomodados com essas partes mais “picantes” ou violentas, mas para mim não foi um incômodo. A meu ver, o autor quis mostrar que, mesmo numa sociedade pouco instruída e controlada por uma instituição religiosa extremamente conservadora, que em teoria abomina a luxúria e a violência, essas coisas mesmo assim aconteciam às escondidas, e eram feitas tanto pelo povo quanto pelos nobres ou clérigos. Acima de tudo, independente de suas crenças ou status, eles eram humanos e, por isso, tinham o traço de maldade comum a todos nós, o qual alguns aprendem a controlar, outros não.

Uma boa parte do livro retrata o período da “peste negra” (ou peste bubônica) e como ela devastou a população europeia de forma descontrolável, não só fisicamente, mas psicologicamente, levando as pessoas ao terror e à euforia. Conviver com a morte e a impotência humana diante da algo além da compreensão causou uma reviravolta temporária nos costumes e nas crenças. Nesse momento, destacaram-se as freiras, que, em seus conventos, tentavam tratar os doentes sem qualquer tipo de proteção e mesmo sabendo que dificilmente poderiam evitar suas mortes.

A quantidade de páginas do livro poderia ser um ponto negativo, se a trama não fosse tão envolvente. Quando comecei a me aproximar da conclusão da história, vi-me desejando que ele tivesse o dobro de páginas. Não queria abandonar ainda aqueles personagens tão cativantes e suas vidas. Com exceção de alguns trechos em que a história “trava” um pouco, o livro é impecável e com certeza um dos melhores que já li.

Conclusão: recomendo muito a leitura de Mundo Sem Fim, principalmente para quem se interessa pela Idade Média ou tem curiosidade de saber como pensavam e agiam as pessoas naquela época dominada pelo poder da Igreja Católica. Além disso, é uma trama que revela o que há de melhor e pior no caráter humano, seja em períodos de paz ou de guerra, seja diante de situações cotidianas ou de tragédias. O autor conseguiu escrever um livro inesquecível, que me fez querer (e comprar) Os Pilares da Terra - volumes 1 e 2, que já estão na minha lista de próximas leituras, só para poder retornar uma vez mais a Kingsbridge, e passar alguns dias naquele lugar ora fantástico, ora aterrorizante.
Resenha feita por Guilherme Gurgel do "Simples Resenhas"

Faço minhas as palavras dele - já que não sou muito boa pra fazer resenhas - e assino embaixo! O livro é fascinante! Recomendo muitíssimo!!!!!!!

Xêross

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