sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O veneno do despreparo…

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               Sempre me preocupou identificar nas pessoas aquilo que eu chamo de despreparo. O despreparo não olha idade, tamanho nem documento, tampouco a cor dos olhos. Atinge indistintamente a uns e a outros. Os há em todas as categorias profissionais, em todos os âmbitos da vida e em todos os tipos de relacionamento.
               Vejo-os entre os que nunca precisaram (ou nunca souberam) enfrentar a dor, a queda, o sucesso e o fracasso, a derrota ou a morte. Vejo-os naqueles presos à vingança, ao ódio, à pequenez, ao poder, ao dinheiro, à falsidade, à covardia, à ignorância, à mágoa, à mentira e até naqueles em que é intenso o ímpeto de punir ou de agradar.
              Porque aqueles que estão preparados sabem enfrentar dificuldades e facilidades; o peso do chumbo ou a leveza do vento; o humor dos mares ou a língua dos povos; a intensidade da dor e da alegria. E aqueles que são despreparados não suportam sequer a travessia dos dias chuvosos, que dirá cruzar mares revoltos de violentas tempestades.
              O despreparo atinge governantes, juízes, soldados, médicos, professores, operários, chefes, diretores, advogados, cobradores, assaltantes, novos e velhos, ricos e pobres.
             Há quem viva por 60, 70 anos e ainda se revele um despreparado. Porque na fogueira dos dias e das noites sombrias, não encontrou o equilíbrio. Porque não conseguiu, na solidão das tardes lentas e tediosas, se olhar no espelho com altivez e felicidade por encontrar sua alma exposta diante de si mesmo. Porque não teve coragem para deixar de lado sua própria mesquinharia, seu próprio orgulho vazio. E principalmente, os despreparados grassam por aí afora porque são aqueles que se recusam a assumir suas próprias responsabilidades perante a vida. Perante as suas vidas. Aqueles que rechaçam a noção de que são os únicos responsáveis por suas próprias escolhas, as quais conduzem ao caminho que escolheram.
            Os despreparados me assustam, mas os que mais me assustam, dentre eles, são aqueles que se escondem sob a pele do cargo, do poder, do dinheiro ou da força física. Sentados em suas cadeirinhas de diretoria, dando ordens ridículas, apontando armas ou erguendo os punhos, são capazes de injustiças, desavenças, crimes, discórdias, tensões e tristezas. O jogo dos despreparados é pesado, sujo, mesquinho, cruel. Falta-lhes temperança, alcance, inteligência emocional, grandeza moral.
            Talvez por isso seja sempre preferível um adversário preparado do que um aliado despreparado (popularmente conhecidos como: um “inimigo esperto” e um “amigo burro”).

Carla Farinazzi escreveu esse texto lindo! Ela tb tem um blog muito lindo, vale a pena fazer uma visitinha!

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