domingo, 23 de agosto de 2009

Nada é Tão Fatigante Como a Indecisão

A fadiga (do homem da cidade) é devida a inquietações que poderiam ser evitadas por uma melhor filosofia da vida e um pouco mais de disciplina mental. A maior parte dos homens e mulheres não governam eficazmente os seus pensamentos. Quero com isto dizer que eles não podem deixar de pensar nos assuntos que os atormentam, mesmo quando nesse momento nenhuma solução lhes podem dar. Os homens levam muitas vezes para a cama as suas inquietações em matérias de negócios e, durante a noite, quando deviam ganhar novas forças para enfrentar os dissabores do dia seguinte, é nelas que pensam, repetidas vezes, embora nesse instante nada possam fazer; e pensam nos problemas que os inquietam, não de forma a encontrar uma linha de conduta firme para o dia seguinte, mas nessa semi-demência que caracteriza as agitadas meditações da insónia.

De manhã, qualquer coisa dessa demência nocturna persiste ainda neles, obscurece-lhes o julgamento, rouba-lhes a calma, de forma que qualquer obstáculo os enfurece. O homem sensato só pensa nas suas inquietações quando julga de interesse fazê-lo; no restante tempo pensa noutras coisas e à noite não pensa em coisa nenhuma. Não quero dizer que numa grande crise, por exemplo, quando a ruína está iminente, ou quando um homem tem razões para suspeitar que a mulher o atraiçoa, seja possível, a não ser a alguns espíritos excepcionalmente disciplinados, afastar o tormento nos momentos em que nada se pode fazer para o remediar. Mas é perfeitamente possível afastar as pequenas inquietações de todos os dias, a não ser que seja necessário enfrentá-las. É surpreendente como a felicidade e a eficiência aumentam quando se cultiva um espírito ordenado que pensa adequadamente no momento preciso em vez de inadequadamente em todos os momentos. Quando uma decisão difícil tem de ser encontrada, logo que se reunem todos os dados aplica-se ao assunto a melhor reflexão e decide-se; essa decisão, uma vez tomada, não deve ser corrigida, a não ser que se chegue ao conhecimento de novos factos. Nada é tão fatigante como a indecisão e nada é tão fútil.

Bertrand Russell, in "A Conquista da Felicidade"


DECÁLOGO: Russell propôs um "código de conduta" liberal baseado em 10 princípios, à maneira do decálogo cristão. "Não para substituir o antigo", diz Russell em sua autobiografia, "mas para complementá-lo". Os dez princípios são:

"1. Não tenha certeza absoluta de nada.

2. Não considere que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.

3. Nunca tente desencorajar o pensamento, pois com certeza você terá sucesso.

4. Quando você encontrar oposição, mesmo que seja de seu marido ou de suas crianças, esforce-se para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5. Não tenha respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.

6. Não use o poder para suprimir opiniões que considere perniciosas, pois as opiniões irão suprimir você.

7. Não tenha medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.

8. Encontre mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se você valoriza a inteligência como deveria, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.

9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.

10. Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso."

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