quinta-feira, 7 de junho de 2012

A idade e a mudança

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"Mês passado participei de um evento sobre as mulheres no mundo contemporâneo.

  Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres  de todas as raças, credos e idades.

E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.

  Foi um momento inesquecível...  A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.

  Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório

há quase uma hora exibindo minha inteligência,

e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho?

Onde é que nós estamos?'

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Onde, não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'..

Estão todos em busca da reversão do tempo.

    Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.

  Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada.

A fonte da juventude chama-se 'mudança'.

De fato, quem é escravo da repetição está condenado

a virar cadáver antes da hora.

  A única maneira de ser idoso sem envelhecer

é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.

  Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

  Mudança, o que vem a ser tal coisa?

  Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme

em que morou a vida toda para um bem menorzinho.

  Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.

  Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens

do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.

  Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou

um baita emprego por um não tão bom,

só que em Florianópolis,

onde ela vai à praia sempre que tem sol.

  Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional.

  Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada,

chora-se muito, os questionamentos são inúmeros,

a vida se desestabiliza.

  Mas então chega o depois, a coisa feita,

e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos,

e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.

  Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem,

só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.

  Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho..."

 

Lya Luft

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Este comentário da escritora, tradutora e poetisa

vale para ambos os sexos, com qualquer idade.

Ela está com 74 anos.

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