sexta-feira, 8 de abril de 2011

O cravo não brigou com a rosa…

Recebi esse texto por email e trouxe pra mostrar a vocês. Concordo com o que o autor (não sei se é esse mesmo) escreveu. Tudo nessa vida tem deve ter limites…

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                Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.

Soube dia desses que as crianças, nas  creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A  explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga  entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência  entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma  sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

               Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.

               Será que esses doidos sabem que O cravo  brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos  criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

                É Villa Lobos, cacete!

                Outra música infantil que mudou de letra  foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte:  Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É  de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a  violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim:  Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A  Lelê vai estudar.

               Se eu fosse a  Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os  amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até  registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e  Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

               Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já  que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem  entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados  para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil.

               Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si,  para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os  homens.

              Dia desses alguém [não  me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência  no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque  disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o  problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu  imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em  mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na  causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias o u  coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

              Vivemos tempos de não me  toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão  coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção,  mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura  do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de  viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

              Daqui a pouco só chamaremos o anão - o  popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de  deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete  (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo -  o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido  de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo  avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também  conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da  contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço,  chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que  está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de  fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o  aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei  mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco  Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto  também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

                O recente Estatuto do Torcedor quer, com  os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das  torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o  centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo  coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

                 Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice  não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso  pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do  seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos  para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a  "melhor idade".

                 Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não.

                  Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

                                                

Texto de Luiz Antônio Simas

(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).

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