quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sobre a tristeza...

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Poucas vezes deixo-me abater por ela.
Mas não posso evitar, porque ela chega aos poucos, ocupando os espaços, assim como erva daninha, que agarrada à sua vítima, vai aos poucos se espreitando pelas fendas do corpo, por sob a pele até as vísceras.

E quando me dou conta deparo-me com a melancolia, a saudade, a dor, a solidão, os infortúnios e as mágoas... Surpreendo esta hóspede inconveniente trazendo na bagagem este arsenal, espalhando-se por todo o meu corpo, espreitando os mais recônditos espaços de mim: meu estômago, meu ventre, meus seios.

Ocupa minha cama, deita-se ao meu lado, me possui, me cobre e me sufoca, até me fazer expulsar as lágrimas que se vertem como nascente de rio caudaloso. Aí, mergulho no mais profundo sofrer, no desencanto e desalento, por que finalmente, ela atinge-me na alma.

Por que a tristeza me penetra assim, sem pedir licença? Quem disse a ela que estou fragilizada pela decepção com as pessoas, especialmente as queridas? Que estou com saudades da felicidade vivida e não conservada? Que estou desencantada com o amor desejado e não recíproco? Que a solidão, à luz da lua cheia que me banha o corpo assim prateadamente... A música que ouço... O perfume do jasmineiro que a brisa trás pela janela aberta para a noite...

Quem disse à tristeza que as noites de junho são marcadas pela falta de quem me aconchegue, de abraços quentinhos, tempo para olhar o céu e ouvir estrelas?

O que posso fazer para me livrar dela? Finjo mais uma vez que não me deixo ocupar ou brinco de esconde - esconde até me exaurir e dormir cansada?

Sinto que preciso apenas entregar-me, até que ela conclua sua missão: me leve ao fundo do poço, ao caos, porque é lá, que se faz a luz e um novo amanhecer.

Dessa forma, quem sabe, poderei renovar-me, juntando os pedacinhos que sobrarem do meu coração, arrancando a erva daninha das entranhas, como uma faxineira tirando o limo de algum espaço abandonado.

Abrirei novamente as janelas para o sol entrar, inundando novamente minha casa, aquecendo novamente a minha pele, como carícia de criança alisando os pêlos dos braços, fazendo cafuné na minha cabeça embranquecida, até que eu possa retornar em busca da paz e novamente me serenizar.

Vera Aziz

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